Casa Fluminense dá mais um passo no seu compromisso com a  justiça climática nas periferias

Categorias
Texto por
Luize Sampaio
Data
21 de junho de 2023

O Fórum Rio 2023 abriu o mês do meio ambiente levando o tema da justiça climática e do racismo ambiental para a Baixada Fluminense. Nos dias 2 e 3 de junho, em Queimados, a cidade mais preta da metrópole, o evento reuniu lideranças de toda a região metropolitana do Rio para apresentarem suas estratégias e visões de luta contra os efeitos climáticos que atingem principalmente os territórios periféricos. Com o lançamento do “Guia para Justiça Climática”, encontro entre agendas locais e shows com artistas da Baixada. 

Equipe Casa Fluminense. Foto: Mayara Donaria

O primeiro dia foi marcado com o lançamento do documentário “Como sobreviver ao racismo ambiental” produzido pelo VisãoCoop com apoio do Fundo Casa Fluminense. O longa é dividido em quatro atos, ou melhor, quatro elementos, e denuncia como a injustiça climática mudou a vida das pessoas e características de territórios da Baixada Fluminense. Essa dimensão de perda foi tema da mesa “Memórias e histórias da Baixada” que rolou em seguida ao filme. A criadora do Yoga Marginal e cientista ambiental, Tainá Antonio, falou sobre esse cenário. 

“O racismo ambiental tira a nossa relação harmoniosa com o nosso território, isso restringe nossa conexão com aquele espaço e reduz a possibilidade de novas gerações criarem ali elos de pertencimentos. É violento odiar o lugar que mora”, contou Tainá, que é cria de Duque de Caxias.  

Foto: Mayara Donaria
Agendas locais fazem grande encontro do Fórum Rio

A Agenda Queimados 2030 foi uma das anfitriãs do Fórum Rio deste ano e promoveu um grande encontro entre as doze agendas locais criadas com apoio da Casa Fluminense. Na dinâmica de “aquário das agendas”, as lideranças tiveram espaço para trocar sobre seus trabalhos e também celebrar juntas feitos que são frutos dessa sistematização coletiva e política sobre as necessidades dos seus territórios. 

Fórum Rio 2023 reuniu todas as 13 agendas locais da metrópole. Foto: Mayara Donaria

Como a incidência que surgiu da Agenda Queimados, o grupo conseguiu que a cidade criasse um conselho do esporte, que era uma das propostas presentes na sua publicação. Em São Gonçalo, a agenda que começou a ser escrita por cinco jovens pesquisadores hoje já tem mais de trinta organizações assinando o documento. Outro motivo de festa entre as agendas foi também o pré-lançamento da Agenda Meriti 2030. 

Foco na preservação dos nossos

Com o tema “Clima é coisa séria”, o Fórum Rio 2023 tinha como um dos objetivos apresentar como os temas já trabalhados pela Casa Fluminense há dez anos – como a mobilidade urbana, habitação e saneamento – estão relacionados às mudanças climáticas. No painel “Quem tem medo do clima?”, a representante do Mulheres em Ação, Camila Moradia, trouxe a importância dessa interseccionalidade.

Liderança do Complexo do Alemão, Camila Moradia, foi uma das convidadas do primeiro painel do Fórum Rio 2023. Foto: Mayara Donaria

“Eu sou uma mulher preta, mãe solo, favelada e militante dos direitos humanos, sou a reunião de muitos perfis de opressão. Quem vive tantos atravessamentos tem que atuar em várias linhas de luta é uma questão de honra e necessidade. A justiça climática e todo esse debate está presente no nosso dia a dia, precisamos só pautar junto as nossas outras lutas”, concluiu Camila. 

O evento também abriu o Circuito Metropolitano de exibição do filme “Rio, Negro”, produzido pela Quiprocó Filmes em parceria com a Casa Fluminense e distribuição da Pipa Pictures. O “Rio, Negro” é um documentário que apresenta um olhar possível para a história do Rio de Janeiro, a partir da contribuição da população negra de origem africana na formação da cidade. O ator Átila Bee, fundador da Cia Karma Círculus Teatro, que interpretou o almirante João Cândido no filme, traçou um paralelo entre cultura e território. Quando falamos em justiça climática, estamos também falando da preservação dos corpos negros e seus territórios. 

Foto: Mayara Donaria

“Temos que nos apropriar da nossa história, sinto enquanto artista que tudo começou a mudar quando comecei a pensar sobre a gente, povo preto dos territórios de periferia. A gente quer andar pra frente, construir coisas, mas também precisamos de reconstrução, um olhar de verdade sobre histórias do passado. É necessário falar de guerra para falar de amor também. Fiquem atentos a história do lugar de vocês, seus vizinhos, tem tanta coisa na nossa rua, e tudo isso é cultura. Temos que respeitar e valorizar”, explicou Bee. 

Poder público presente
Foto: Mayara Donaria

Outro marco importante do evento foi a participação do presidente da Frente Parlamentar de Justiça Climática, o deputado estadual Flávio Serafini (PSOL), no lançamento do Guia para Justiça Climática.  A frente da Alerj junto com a Casa Fluminense e outros coletivos estão elaborando um projeto de lei para autorizar a criação de uma Secretaria de Emergência Climática no Estado do Rio, como propõe a Agenda Rio 2030.  Ele falou sobre a importância da sistematização de pautas presentes no Guia, principalmente frente ao cenário do estado. 

“O Rio de Janeiro é esse estado que concentra os desastres, suas vítimas e também é o maior produtor de combustíveis fósseis do Brasil. Somos dependentes da indústria do petróleo e vivemos em meio a Mata Atlântica. Somos essa contradição de ser um estado que é um grande poluidor e ao mesmo tempo o lugar que mais sofre com os efeitos das mudanças climáticas. A gente precisa urgentemente que essas agendas dos territórios se consolidem com política pública”, explicou o deputado. 

Da Baixada ao Leste, do debate até a celebração

Fórum Rio 2023 levou o tema do racismo ambiental e justiça climática para o território mais preto da metrópole, lançou um novo guia para que tecnologias de territórios periféricos sejam replicados e apoiados, mobilizou lideranças locais das 22 cidades da Região Metropolitana, levou  alunos de prés comunitários para participar dos debates e  apoiou artistas da Baixada, tudo isso foi costurado pela Rede Casa.

A coordenadora executiva da Casa, Larissa Amorim, contou sobre o processo de amadurecimento da temática ambiental dentro da organização.

Coordenadora executiva da Casa Fluminense, Larissa Amorim. Foto: Mayara Donaria

“O tema da justiça climática já é debatido há muitos anos dentro dos movimentos de meio ambiente, acho que o que estamos vendo aqui é essa soma de mais coletivos, pretos e periféricos, em um esforço de trazer mais gente para essa luta, para que o debate cresça de forma diversa e democrática com a presença de quem deve ser centro dessa história. O Fórum foi a concretização de debates que já estávamos realizando na Casa, mas também mais um passo frente ao que estamos buscando alcançar, uma metrópole mais justa e sustentável como a gente já propõe na Agenda Rio 2030”, resumiu Larissa. 

Outras Notícias