* Por Carín Nuru
Em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, nasceu o BXD Lambe, o primeiro coletivo de lambe-lambe da região. Fundado e coordenado por Pietra Canle e Silas Sena, hoje eles contam com quatro colaboradores, que apoiam o trabalho desenvolvido por eles. O coletivo se dispõem a provocar sobre a realidade das comunidades periféricas da Região Metropolitana do Rio, a partir dos lambes produzidos com fotos e frases, que expõem de maneira mais acessível às desigualdades presentes nos territórios, sobretudo da periferia da metrópole.
Com o apoio da Casa Fluminense, pelo Edital Agenda Rio 2030: Enfrentamento ao Racismo Ambiental, Geração Cidadã de Dados e Incidência Política, o BXD Lambe desenvolveu o “Infolambe”. O projeto foi criado para denunciar o que acontece bairro do Chacrinha, em Nova Iguaçu. O coletivo tinha como objetivo olhar para os desafios socioeconômicos enfrentados pelo bairro para além dos números e estatísticas, trazendo informações produzidas a partir de uma pesquisa feita com os moradores especificamente sobre as enchentes provocadas pela falta de estrutura do território para receber as fortes chuvas.
A cofundadora do BXD Lambe, Pietra Canle, é cria de Nova Iguaçu e morou durante anos no Chacrinha. Ela vivenciou de perto a falta de infraestrutura do bairro, por isso decidiu fazer uma ação voltada para denunciar realidade do racismo ambiental no território.
“Nós queríamos relatar como as pessoas se sentiam com relação às enchentes para além de números. Se sentiam medo da chuva ou vontade de mudar de território. A gente não quis só recolher os dados, mas também à população, suas histórias e sentimentos”, contou Pietra sobre a experiência de pesquisa com o projeto Infolambe.
Lambes e dados
Com a arte dos lambes, o coletivo viu uma forma de devolver à comunidade do bairro do Chacrinha as informações que foram coletadas a partir dos relatos compartilhados durante a pesquisa de campo. O BXD Lambe transformou dados complexos em mensagens visíveis e fáceis de serem entendidas nas ruas do bairro. Essa abordagem que permitiu que a população não apenas visse os dados coletados, mas também se reconhecesse e compreendesse como foram obtidos.
Nessa jornada, eles encararam o desafio de conseguir dados precisos sobre os territórios da Baixada. Segundo Pietra, existe uma grande dificuldade de conseguir coletar dados, inclusive informações de deveriam ser públicas, sobre os territórios da Baixada Fluminense.
“Tivemos que fazer uma pesquisa aproximada, pelo nosso próprio conhecimento do território. É muito difícil acessar qualquer tipo de informação, principalmente aqui da Baixada, geralmente quando vão pesquisar colocam tudo junto e viram um dado só, mas nosso território é muito múltiplo”, relatou Pietra.
Entre os dados levantados pelo coletivo, eles destacaram o medo da chuva, apesar de terem sido difíceis de coletar pela sensibilidade do assunto, especialmente entre os homens da comunidade. Além disso, a pesquisa revelou que muitos residentes não reconheciam que haviam sido afetados pelas enchentes, destacando a importância também do trabalho educacional e conscientização do BXD.
“A busca trouxe muitas respostas para gente entender também como que a gente pode atuar enquanto educador e enquanto artista no nosso território”, projetou a artista e pesquisadora.
Perspectivas para o futuro
O coletivo, que nasceu em 2021, já vem desenvolvendo uma série de intervenções urbanas com o propósito de informar, conscientizar e protestar sobre a realidade de desigualdade de gênero, econômica, racial e climática, nos territórios da Baixada. Eles já produziram diversas ações, inclusive em parcerias com organizações como a Casa Fluminense, Fogo Cruzado e o Instituto Marielle Franco, por exemplo.
Mas essa é a primeira vez que eles produzem dados próprios, e o sucesso do Infolambe já abriu caminho para uma nova pesquisa liderada por eles, que agora quer se concentrar em entender mais sobre o autocuidado das mulheres na região. Objetivo é trazer dados sobre como elas se sentem cuidadas ou não em um contexto de vulnerabilidade e como podem reivindicar seus direitos.
O Infolambe no Chacrinha não é apenas um projeto de coleta de dados, é uma narrativa construída a partir das vozes da comunidade. Pietra Canle demonstrou que iniciativas locais podem revisitar questões cruciais, muitas vezes esquecidas pelas lentes do estado. Compartilhar essas histórias é ter a esperança de um movimento de conscientização e apoio para comunidades como o Chacrinha, que precisam ser ouvidas e apoiadas pelas prefeituras e governos do estado.