Enfrentando o racismo ambiental na busca por um território mais digno

Texto por
Comunicação Casa
Data
26 de fevereiro de 2024

Por Carín Nuru

Desde 2020, o Instituto Todos Juntos, Ninguém Sozinho (TJNS) trabalha no município de Petrópolis em prol da justiça climática, igualdade de gênero e combate à fome. O TJNS é uma das organizações da sociedade civil que luta para enfrentar os desafios do território e tem buscado incidir na promoção da justiça climática e da equidade socioambiental de Petrópolis. Pautar esses temas em um município que sofreu e sofre com o racismo ambiental, é lidar diariamente com um dos maiores desafios que estamos vivendo hoje na metrópole do Rio: a crise climática.

Fundado, inicialmente, com a proposta auxiliar famílias em vulnerabilidade que haviam ficado sem fonte de renda durante a pandemia, a missão de realizar doações de alimentos se ampliou após as chuvas de 2022. O município foi impactado por uma série de desastres causados por fortes chuvas que a infraestrutura da cidade não estava preparada para enfrentar, Petrópolis não possui Plano de mitigação e adaptação às mudanças climáticas divulgado. A partir daí, o coletivo TJNS entendeu que precisavam pautar a emergência climática em Petrópolis e construir propostas para enfrentar a fome, a pobreza e o racismo ambiental.

Segundo o Mapa da Desigualdade produzido pela Casa Fluminense, nos anos de 2021 e 2022, o município de Petrópolis teve cerca de 1.158 casas danificadas ou destruídas devido a eventos climáticos relacionados às fortes chuvas. Pamela Mércia, fundadora e atualmente diretora do Instituto, compartilhou com a Casa Fluminense que hoje o coletivo busca encarar o problema do clima com propostas de soluções pautando a luta por justiça climática.

“A gente procura encarar o problema com proposta de soluções a partir de trabalhos realizados de enfrentamento à fome, a pobreza e ao enfrentamento do racismo ambiental focado na luta por Justiça climática”, disse Pamela sobre a atuação do Instituto do TJNS.

Conscientização e educação climática

A pauta do racismo ambiental expandiu o horizonte do projeto, que percebeu que além de negros, maioria da população afetada pelas questões socioeconômicas e ambientais do território eram mulheres. Em uma cidade marcada pelo racismo, o instituto começou a investir em formação para as pessoas, visando abrir portas no mercado de trabalho, proporcionando atividades geradoras de renda e promovendo qualificações para aumentar suas chances de emprego. 

Pamela compartilhou que a realidade no município para essas mulheres nunca foi fácil e por isso a necessidade de apoiá-las para terem uma base financeira, principalmente acreditando que isso pode mitigar os impactos da desigualdade que as atingem. 

“Antes da pandemia, antes das chuvas, essas mulheres já encontravam dificuldade de conseguir emprego, e quando surgem são cargos de subserviência. Então nós focamos em levar capacitação para esse público fazendo com que portas se abrissem para elas ingressarem no mercado de trabalho”, ressaltou Pamela.

Foto: Mayara Donaria

Em 2023, o projeto foi uma das iniciativas apoiadas pela Casa no Edital Agenda Rio 2030: Enfrentamento ao Racismo Ambiental, Geração Cidadã de Dados e Incidência Política, com o apoio eles lançaram cursos sobre racismo ambiental e crise climática. A formação buscou conscientizar as comunidades sobre problemas climáticos cotidianos da região como coleta seletiva, falta de tratamento de esgoto e problemas com fornecimento de energia elétrica, por exemplo. Ao total foram 44 certificados entregues após o curso, o instituto avalia essa experiência como um impacto muito significativo para a população negra e periférica de Petrópolis.

Segundo Pamela, o público majoritário foi de lideranças e estudantes de diversos territórios e bairros de Petrópolis, que passaram a reconhecer que são vítimas do racismo ambiental e entender os problemas dentro das suas comunidades. A troca entre os estudantes do curso resultou na criação de Diretrizes de Enfrentamento ao Racismo Ambiental, construída com o mandato da Coletiva Feminista Popular, representado pela vereadora Julia Casamasso (PSOL), com o objetivo de pressionar o poder público sobre as questões climáticas de Petrópolis.

Além disso, Pamela compartilhou que a parceria também viabilizou a construção do Projeto de Lei Nº 204/2023, pela criação do Dia Municipal de Enfrentamento ao Racismo Ambiental, comemorado no dia 20 de março, segundo dia das tragédias de 2022.

Perspectivas de futuro para a cidade

Atualmente, o instituto conta com quatro diretorias principais: justiça climática; administração; financeira e comunicação. As diretorias são administradas por cerca de 25 voluntários atuando de forma direta, além das pessoas que apoiam o trabalho do instituto de forma indireta. Apesar dos desafios enfrentados, o grupo está determinado a continuar apoiando a construção de um território cada vez mais colaborativo e solidário, que esteja alinhado na busca de uma Petrópolis com melhor qualidade de vida para todos.

O Edital Agenda Rio 2030 provoca as organizações a projetarem um futuro com possibilidades mais justa, igualitária e sustentável para seus territórios. O Instituto TJNS tem a perspectiva desse futuro, Pamela acredita que compartilha o objetivo de todo mundo quando diz que “a gente imagina, espera e vai lutar para alcançar primeiramente uma Petrópolis menos racista. E a gente espera também que o número de mortes diminua com a diminuição dos desastres climáticos”, compartilhou.

Projetar um futuro mais digno faz parte de cultivar a esperança de uma metrópole do Rio mais justa e igualitária, e o Instituto Todos Juntos Ninguém Sozinho vem trabalhando não só para conquistar essa equidade, mas também para manter esse sonho vivo. 

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