A população da Baixada Fluminense está preocupada com os riscos que a pandemia de coronavírus traz para região. Com problemas históricos de violação de direitos e desigualdades no acesso a direitos básicos, os moradores da região temem que o cenário se agrave ainda mais.
Neste sentido, cerca de 100 coletivos, organizações, lideranças sociais e iniciativas, de 13 municípios da Baixada Fluminense, se uniram na articulação #CoronaNaBaixada e estão empenhados em combater a disseminação do novo coronavírus (COVID-19) com propostas para enfrentar a crise nesse momento de pandemia. A Casa Fluminense é uma das organizações que fazem parte da articulação.
Para Douglas Almeida, coordenador de mobilização da Casa Fluminense e morador de São João de Meriti, pouco vem sendo falado sobre a situação da Baixada Fluminense no contexto da pandemia do Coronavírus. “Vemos muitas pessoas ainda circulando nas ruas normalmente, mesmo com as medidas de isolamento domiciliar. Ouvimos também pessoas relatando nos seus bairros que estão com os sintomas, mas que não consegue fazer o teste. Por isso, precisamos pautar de forma articulada medidas de prevenção na região da Baixada Fluminense”, afirmou o Douglas.
Com objetivo de articular iniciativas que estão acontecendo na região, o #CoronaNaBaixada está trabalhando em três frentes: (i) compartilhamento de experiências de solidariedade local; (ii) elaboração e divulgação de estratégias para orientar os moradores da Baixada a ficarem em casa; (iii) interlocução com a mídia e com o poder público, para visibilizar os problemas enfrentados no dia a dia nos municípios e acompanhar as medidas que estão sendo adotadas.
O #CoronaNaBaixada elabora uma carta manifesto com 7 propostas direcionadas às prefeituras e ao Governo do Estado para garantir direitos à população da Baixada Fluminense. A articulação segue recebendo mais adesões no formulário online, divulgado pelos perfis e canais dos signatários. A cada 48h será atualizada a lista de signatários.
Confira abaixo o texto da carta #CoronaNaBaixada:
A pandemia do coronavírus (COVID-19) é algo novo para todas as gerações. Mas diversos problemas na Baixada Fluminense já existem antes da pandemia e com ela podem se agravar.
Na Baixada, infelizmente, é histórico o processo de violação de direitos. A população pobre, preta e periférica, moradora dessa região, sofre com a violência, desemprego e precarização do trabalho, baixo número de leitos disponíveis e problemas no acesso à saúde, falta de saneamento (água potável, coleta de esgoto, coleta de lixo), adensamento habitacional excessivo (mais de 3 pessoas dormindo no mesmo quarto), dentre outros.
Infelizmente, a infraestrutura e as condições não são boas, propícias para a proliferação do coronavírus. Mas os governos e a sociedade têm que entender suas responsabilidades para evitarmos a expansão do número de casos. Hoje, temos poucos, mas é necessário prudência e atenção. Muitas denúncias chegam de pessoas com sintomas que não foram testadas, inclusive que vieram a óbito. Há prefeituras que estão se esforçando para seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e das autoridades sanitárias, mas algumas ainda não entenderam a gravidade da situação ou preferem seguir as orientações desastrosas do presidente da República, com isso não implementaram medidas sérias para o isolamento e informação aos moradores, estando na contramão das orientações da OMS.
Nesse momento de crise, precisamos que as prefeituras da região façam ações coordenadas com o Governo do Estado, buscando soluções conjuntas numa região onde a circulação entre os municípios é bem comum. O vírus não conhece nossas divisas.
Reforçamos que seja garantido à população da Baixada Fluminense:
- A recomendação da OMS de realização de testes em pacientes com sintomas do novo coronavírus, inclusive os casos leves, testando o máximo de pessoas possíveis para que haja o isolamento adequado de quem estiver contaminado com o COVID-19.
- Medidas de redução da circulação e aglomeração de pessoas, sem uso excessivo da força, seja no comércio, indústrias, transporte público, templos religiosos e também nos bairros residenciais. Garantir o isolamento dos idosos e das pessoas com doenças crônicas, como hipertensos e diabéticos.
- Renda para trabalhadores informais e formais que tiveram seus contratos suspensos ou foram demitidos. Reforçar a importância que os municípios e o estado pressionem o governo federal por medidas de transferência de renda, como a efetivação da proposta de renda básica emergencial, sugerida por um conjunto de organizações no Brasil. É importante que a medida beneficie as famílias dos estudantes da rede municipal com renda inferior a 1 salário mínimo.
- O acesso à água potável, em meio a diversas denúncias de falta d’água em vários bairros da Baixada Fluminense. Além disso, fazer a higienização periódica das ruas.
- Insumos para a população em situação de rua, pessoas com deficiência e às populações favelada e periférica, tais como: álcool gel, máscaras faciais de proteção descartáveis, copos descartáveis nos bebedouros, produtos de higiene pessoal, além de outros que sejam indicados pelos gestores de saúde pública e órgãos integrantes do Sistema Único de Saúde. Garantir que não haja cobrança abusiva desses insumos e dos produtos da cesta básica.
- Que a Política de Segurança Pública seja pautada por ações articuladas, na lógica de inteligência e não de operações cotidianas, visando otimizar e integralizar as medidas de prevenção ao COVID-19. A preservação das vidas deve ser prioridade, impedindo a violação de direitos, para que não haja o fortalecimento de milícias e outros grupos criminosos.
- Serviço de monitoramento que possibilite, em acordo com as recomendações sanitárias de proteção contra o contágio, identificar e intervir em situações de violência doméstica e outras formas de abuso contra mulheres, crianças e adolescentes, população LGBT e outros grupos vulneráveis em função do período de isolamento social/quarentena, além de reforçar a Patrulha Maria da Penha.
Assinam essa carta / manifesto as organizações, coletivos, iniciativas, pessoas e movimentos:
Casa Fluminense
Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial
Fórum Grita Baixada
Associação Apadrinhe um Sorriso
Rede de Mulheres Empreendedoras da Baixada
Roda Cultural do Centenário
Rua Juventude Anticapitalista
Cia. Cerne
Cineclube Buraco do Getúlio
Bxd_Qm2
Coletivo Baixada Ativa
BaixadaCine
Ampara
Movimento Educação Popular +Nós
Movimenta Caxias
Roda de Mulheres da Baixada
Coletivo Minas da Baixada
Centro de Desenvolvimento Se Essa Rua Fosse Minha
MJPOP – Monitoramento Jovem de Políticas Públicas
Visão Mundial
Colegiado Diocesano da Pastora da Juventude – Duque de Caxias
Rede de Mães e Familiares vítimas de violência da Baixada Fluminense
Gomeia Galpão Criativo
FAIM – Festival de Artes de Imbariê
Coletivo Nádia Félix
Cineclube Velho Brejo
Redenção Baixada
Pedala Queimados
Casa Semente
Casa da Cultura
ABM – Conselho de Entidades Populares
COMTREM
AMIGAS – Associação de Mulheres de Itaguaí Guerreiras e Articuladoras Sociais
Resiste Meriti
APPH CLIO
SEPE Duque de Caxias
SEPE São João de Meriti
Mobiliza Japeri
Instituto Enraizados
Rede de Mulheres da Baixada (ASPLANDE)
Pastoral da Juventude da Diocese de Nova Iguaçu
Pastoral da Juventude da Diocese de Itaguaí
CRPJ – Coordenação Regional da Pastoral da Juventude Leste 1
Coletivo MovimentAção
MPS – Movimento Pró Saneamento
ONG Mão Amiga Lutando pela Vida
AMA – Associação Mulheres em Ação
Rede Baixada em Cena
Portal B
Site da Baixada
Japeri Online
Rádio Ativa FM 98.7
Associação Cultural e Esportiva Nova Aliança
Projeto CAPO – Centro de cultura e arte popular
CDH – Centro dos Direitos Humanos de Nova Iguaçu
Centro Cultural Amar São João
Grupo Código
Projeto Luar de Dança
Grupo MJPOP Luar de Duque de Caxias
Associação Guadá Vida
UBM
UNEAFRO RJ
FORAS
Antonio Augusto Braz – Duque de Caxias
Daniela Abreu – Magé
Douglas Almeida – São João de Meriti
Fernando Nicholas – São João de Meriti
Guilherme Linhares Antunes – Belford Roxo
Luana Pinheiro – Nova Iguaçu
Nilson Henrique de Araujo Filho – Queimados
Priscilla Abrantes da Silva – São João de Meriti
Vinícius Baião – São João de Meriti