Como seria o modelo de aluno ideal para os professores do Rio de Janeiro? Pessoas mais velhas, pobres, pretos, moradores de periferia, jovens em regressos do sistema prisional ou estudantes de escolas públicas entrariam no perfil desejado? Para os coordenadores e professores dos pré-vestibulares comunitários apoiados pela Casa Fluminense, esses alunos são foco dos seus projetos.
Com o objetivo de potencializar essa mobilização, a Casa Fluminense vai apoiar 8 pré-vestibulares comunitários de áreas periféricas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro por meio de um suporte financeiro e do compartilhamento de melhores práticas de gestão e engajamento de voluntários entre as iniciativas envolvidas. O projeto faz parte da nova linha de apoio do Fundo Casa Fluminense para organizações populares em parceria com o Instituto Ibirapitanga. Na última sexta-feira (07/02), foi realizada a primeira oficina com esses “Prés” para estimular o intercâmbio de ideias e experiências entre eles, entendendo as diferença e semelhanças entre os territórios e os desafios enfrentados por cada um.
A ideia é que os encontros sejam bimestrais e que contêm com facilitação da equipe do Pré-Vestibular Santa Cruz Universitário, que vão trazer propostas de oficinas e dinâmicas. Com isso, a Casa buscar estimular o intercâmbio de experiências entre o projeto, além contribuir no fortalecimento de uma rede de organizações populares que atuam com educação. Todo o projeto será registrado através de um ensaio fotográfico e montagem de uma exposição que vai narrar as histórias cotidianas e trajetórias dentro dos “Prés”. Ao final também será publicada uma cartilha com os principais resultados e aprendizados do projeto.
Participam do projeto oito pré-vestibulares comunitários com atuação na periferia metropolitana do Rio, entre eles: Coelho Neto Universitário, Santa Cruz Universitário, Pré Vestibular Comunitário Esperança Garcia, Núcleo Solano Trindade, Pré Vestibular Amapara, PVNC Vila Operária, Uneafro Belford Roxo e Nós por Nós Jardim Catarina.
Da sala de aula para a sala de aula
A importância dos pré-vestibulares comunitários já podem ser sentida em dados. Lembra do perfil de alunos desejados? Pela primeira vez, o número de estudantes negros nas universidades brasileiras é maior que dos brancos, segundo a pesquisa “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, divulgada recentemente pelo IBGE. O acesso da juventude negra às universidades, quando analisamos o cenário educacional que boa parte destes estudantes atravessaram, é fruto de uma vitória coletiva que podem ser entendia por dois fatores importante.
Entre o final da década de 90 e o início do anos 2000 dois fenômenos educacionais impulsionaram esse cenário, são eles: a forte articulação dos movimentos negros na criação de pré-vestibulares comunitários e a implementação da política de cotas pela Lei 12.711. Esta é uma vitória que deve ser celebrada, mas entendemos que o acesso da juventude negra e pobre às universidades segue sendo um enorme desafio e compromisso com um projeto político de enfrentamento das desigualdades sociais.
Para a Yasmin Monteiro, assessora de mobilização da Casa Fluminense e responsável pela coordenação do projeto, a tarefa de ampliar o acesso da juventude popular às universidades passa por garantir os preparatórios para aprovação no vestibular, orientação e auxílio com os trâmites burocráticos do acesso pelas cotas. “Acreditamos que a construção de uma cidade mais igualitária e democrática passa necessariamente pela promoção do acesso de nossa juventude aos espaços acadêmicos e profissionais, e para atingir esse objetivo os diversos pré-vestibulares comunitários, sociais e populares desempenham papel central”, comentou Yasmin.
Desse modo, contribuir para o fortalecimento dos pré-vestibulares comunitários que já têm uma trajetória de atuação nas periferias metropolitanas, assegurar recursos humanos e financeiros para a manutenção de suas atividades e reduzir a evasão dos alunos é de importância central. Com o intuito de promover números expressivos como citado acima pela pesquisa do IBGE, o Fundo Casa Fluminense vem se estruturando desde 2019 para criar um ambiente de apoio e troca com os pré-vestibulares comunitários.
Fundo Casa deu início a nova linha apoio em 2019
O Fundo Casa Fluminense é uma das nossas iniciativas de mobilização que, desde 2016, já contribuiu com mais de 80 projetos voltados para o enfrentamento das desigualdades e desenvolvimento sustentável e inclusivo na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. No ano 2019, além dos editais da Agenda Rio, a Casa Fluminense teve sua primeira troca com pré-vestibulares comunitários, selecionando três projetos que foram importantes no processo de criação de um piloto da estruturação desta nova linha de apoio do Fundo Casa.
Além das doações, uma pesquisa foi conduzida junto aos apoiados para identificar os principais desafios na atuação dos prés. Nessa pesquisa foram identificadas as seguintes demandas: (I) comunicação e abertura de inscrições; (II) estratégias de redução da evasão; (III) ampliação da equipe através do engajamento de voluntários; e (IV) o suporte no acesso às cotas raciais como os principais desafios internos. Com base nesses resultados, em 2020, conseguimos ampliar o número de pré-vestibulares apoiados, elaborar o ciclo de encontros de intercâmbio e aumentar o valor do recurso aportado.
Em breve, vamos compartilhar a matéria que conta o perfil de cada um dos prés. Fique de olho!