Coletivo Tuxaua: memórias ancestrais da Baixada Fluminense

Texto por
Carín Nuru
Data
17 de abril de 2025

Preservar a memória de um povo por meio da arte foi a forma que o Coletivo Tuxaua, coordenado por Ana Maria Kariri, encontrou para contar a história da sua ancestralidade. Na exposição “Ay Tendioké! Histórias de retomada, legado e memória ancestral”, realizada em novembro de 2024 na Biblioteca Leonel Brizola, em Duque de Caxias, Ana reuniu artistas da Baixada Fluminense que, através das artes visuais, compartilham suas próprias narrativas e as memórias de seus povos e comunidades.

Um dos espaços da exposição foi dedicado à memória da família de Ana, com destaque para sua avó de 104 anos — a ancestral viva mais velha da etnia Kariri da Paraíba. “Não só os povos indígenas, mas também as raízes negras estão entrelaçadas na história de Duque de Caxias”, reforça Ana.

A exposição contou com a participação de diversos artistas da Baixada Fluminense que trazem através da pintura, fotografia e escultura, a memória e história de suas famílias. Cada trabalho é um gesto de resistência e reconstrução, reafirmando que a memória não está apenas no passado, mas também no presente das comunidades que seguem vivas e em retomada.

A artista visual Bruna Soares, foi uma das convidadas por Ana para a exposição. Ela apresentou quadros pintados com folhas, registrando a história da sua família com a folha de louro. “Eu não conheço a culinária da minha família sem a folha de louro, durante a minha vida toda sempre tive aprendizado com essa folha. Quando eu recebi o convite para essa exposição, eu vi como uma oportunidade de registrar isso em tela”, compartilha Bruna.

O Coletivo Tuxaua foi um dos selecionados no Edital Agenda Rio 2030 do Fundo Casa Fluminense de 2024. O edital reconhece o papel das culturas indígenas para a construção da justiça social e territorial da Metrópole do Rio de Janeiro, e reforça a importância de projetos como o de Ana para a preservação da história e memória dos povos indígenas.

Além da exposição, a partir do apoio da Casa, Ana também lançou o livro “Ay tendioke – histórias e memórias de mulheres originárias do nordeste, quilombolas e outras etnias”, que aconteceu durante a 1ª conferência de saúde dos povos indígenas no Rio de Janeiro. O livro reúne histórias contadas através da narrativa de mulheres indígenas, quilombolas e de outras etnias, mostrando a importância de valorizar as raízes e a luta pela preservação da tradição e memória dos povos.

Nesse contexto, uma das propostas de políticas públicas da Agenda Rio 2030 é a criação de Sistema de Cultura e Memória, para a garantia de fomento e proteção das memórias materiais e imateriais, e o fortalecimento de espaços culturais nos territórios favelados e periféricos.

A exposição “Ay Tendioké!” é uma demonstração viva de como a arte e a cultura podem ser ferramentas de memória, preservação e continuidade. Quando a política pública encontra o protagonismo comunitário, nasce a possibilidade de recontar o passado, transformar o presente e imaginar novos futuros.

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