Plano Diretor Cicloviário: especialistas recebem proposta com ressalvas

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Texto por
Saulo Pereira Guimarães
Data
19 de julho de 2017

O município do Rio ganhará um Plano Diretor Cicloviário até 2020. A novidade é uma das metas previstas no Rio 2020: mais solidário e mais humano, ou Plano Estratégico para a cidade do Rio de Janeiro, documento que reúne os objetivos da prefeitura para o próximos anos de gestão do prefeito eleito Marcelo Crivella, divulgado no último dia 4 de julho. Para especialistas, a criação do novo plano é positiva, mas deve vir acompanhada de outras ações para surtir efeito na cidade.

“Pessoalmente, eu considero a ideia excelente”, afirmou Clarisse Linke, diretora executiva do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP). Porém, ela destaca que é importante que não sejam esquecidos projetos que vinham sendo discutidos na gestão anterior, como o da ciclovia Saens Peña – Praça XV, o Ciclo Rotas Centro e outros. Já Carolina Queiroz, da Associação Carioca pela Mobilidade Ativa (MobiRio), criticou o fato do Plano Diretor Cicloviário ser a única meta relacionada ao transporte por bicicletas do Rio 2020 e a ausência de menções à redução de velocidade de vias no documento divulgado pela prefeitura. “Essa é uma medida importante, porque é impossível fazer ciclovia na cidade toda”, defendeu.

A criação de um sistema de ciclovias interligadas entre si e complementares ao sistema de transportes de alta capacidade será um dos objetivos do Plano Diretor Cicloviário. O outro é aumentar a porcentagem de viagens de bicicleta no total de deslocamentos feitos na cidade, estimada em cerca de 2,4% pelo Governo do Estado em levantamento sobre a região metropolitana feito em 2012. O número cada vez maior de ciclistas é um dos argumentos para a elaboração do novo instrumento de planejamento. De acordo com a pesquisa Perfil do Ciclista Brasileiro, 42,5% dos cariocas que usavam a bicicleta como meio de transporte o faziam a menos de cinco anos em 2015. Além do Plano Diretor Cicloviário, o Rio 2020 estabelece que a prefeitura passe a monitorar indicadores como as quantidades de quilômetros de ciclovias implantados e recuperados pelo município.

Bicicleta no Rio

A cidade do Rio saltou de 150 quilômetros de ciclovia em 2009 para 450 quilômetros em 2016, de acordo com a prefeitura. “Nossas temperaturas permitem pedalar confortavelmente de abril a novembro e temos hoje uma malha de tamanho bacana”, comenta Zé Lobo, integrante da Associação Transporte Ativo. Entretanto, episódios como a queda da ciclovia Tim Maia, em abril do ano passado, mostram que a infraestrutura oferecida aos ciclistas nem sempre é de boa qualidade e há pontos que deixam a desejar, como por exemplo, a integração com outros modais. A oferta de bicicletários em estações de trem, metrô e BRT é escassa e há restrições em relação ao embarque com bikes nesses modais. Vale dizer que tais problemas não impedem que mais de 30% dos ciclistas cariocas utilizem a bicicleta em combinação com outro meio de transporte, conforme mostra Perfil do Ciclista Brasileiro. O indicador fica acima da média nacional, que é de pouco mais de 25%.

Os especialistas no tema destacam ainda outros pontos importantes. “As obras para Copa e Olimpíadas não consideraram as bicicletas como uma opção de transporte”, afirma Zé. Ele dá o exemplo do BRT na Barra, que soterrou ciclovias existentes nas avenidas Airton Senna e das Américas. Já Clarisse lembra que apenas 6% das viagens de bicicletas são feitas por mulheres. Segundo ela, o percentual baixo se repete em outros locais e está relacionado à falta de trajetos exclusivos para bikes, como mostra estudo feito pela ong Ciclocidade. “A integração da bicicleta com trem, metrô e outros modais também é importante, já que a mulher geralmente tem mais tarefas que o homem e faz mais viagens por dia, fato que também aponta a necessidade de haver mais creches/escolas públicas nos bairros mais populosos”, explica.

Com o anúncio do Plano Diretor Cicloviário, a expectativa é de que alguns desses problemas comecem a ser resolvidos. Carolina espera que, nas audiências públicas para discussão do texto, a sociedade civil possa incorporar a ele propostas esquecidas pelo Rio 2020 e que iniciativas como a ciclovia ligando a Tijuca ao Centro sejam realidade antes da publicação do plano diretor. “Acredito que esse projeto vire realidade nos próximos dois anos”, disse ela. Já Zé lembra que será preciso lutar para que as diretrizes a serem definidas saiam do papel para as ruas. “Porto Alegre tem plano diretor cicloviário desde 2009, mas ele nunca foi implantado”, adverte.

No entanto, a Casa Fluminense recorda que antes de apresentar um Plano Diretor Cicloviário, a cidade do Rio de Janeiro necessita de um Plano de Mobilidade Urbana, que ainda não foi apresentado e que abrange também o transporte de massa. O Plano de Mobilidade Urbana deve propor medidas que são anteriores ao debate sobre rede cicloviária, embora todos estes sejam temas relevantes para o desenvolvimento da cidade e dos municípios do entorno.

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