Casa Fluminense abre janelas para o futuro

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Texto por
Comunicação Casa
Data
29 de abril de 2013

A Casa está aberta. Pessoas de várias áreas da cidade e da região metropolitana se reuniram no Centro Cultural Municipal de Santa Cruz, na tarde de sábado, 27 de abril, para o lançamento da Casa Fluminense. Em comum, a vontade de construir juntos o Rio que falta acontecer: mais igual e para todos.

O encontro também marcou o início da campanha Agenda Rio 2017, iniciativa que pretende mobilizar vozes de todo o Rio na reflexão sobre as políticas e estratégias necessárias para o desenvolvimento do estado. A campanha vai promover encontros temáticos pela região metropolitana e recolher depoimentos de moradores e especialistas em resposta a três perguntas:

“Qual deve ser a agenda de políticas públicas para o Rio de Janeiro para além daquela já dada para os próximos anos, de organização da Copa do Mundo e das Olimpíadas? Qual é o Rio que queremos, para o qual estamos ou deveríamos estar caminhando? O que não está sendo feito hoje para chegar a ele?”

Associados falam sobre o desafio de pensar o Rio de 2017

Associados falam sobre o desafio de pensar o Rio de 2017

Grande parte dos presentes subiu ao palco para falar sobre esse Rio desejado, do “depois de 16”. “Evitando reducionismos, ainda somos alegoricamente muito parecidos com casa grande e senzala e suas dinâmicas. Isso é o nosso DNA. O que eu espero para o Rio de 2017 é que ele desnaturalize essa condição e essa construção da cidade. Desejo que a cidade seja construída de forma pública e coletiva”, disse José Marcelo Zacchi, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS) e diretor executivo da Casa, ao abrir o microfone.

O panorama formado pelas visões e propostas resultante deste processo de escuta será a contribuição inicial da Casa para o debate público no Rio e orientará as futuras ações da associação. “A gente precisa mapear a causa, não só o efeito”, disse Marcus Faustini, criador da Agência de Redes para a Juventude. “Tem um modelo apartado de cidade sendo construído. Isso é um problema para depois de 2016”.

O diretor teatral propôs adotar formatos inovadores de interação comunitária: “A Casa tem de inventar modos de escutar as pessoas, bairro a bairro. Se não dá para fazer debate, porque não vai ninguém, então faz um café, leva um bolo, mas vai ver o que as pessoas estão fazendo”.

Para o diretor do grupo teatral Cia do Invisível e morador de Santa Cruz, Alexandre Damascena, é preciso acabar com a descrença. “As pessoas estão cansadas das coisas que estão no mundo da teoria e que na prática não se dão. Minha vontade é que em 2017 as discussões da Casa estejam lotadas de ativistas do bairro. Desejo que consigamos fazer com que as pessoas voltem a acreditar que é possível mudar as coisas”.

A escolha de Santa Cruz para o evento inaugural demonstrou a determinação da Casa de circular por todo o Rio de Janeiro, fomentando novos encontros e iniciativas. Quem mora no bairro, o mais distante do Centro da cidade do Rio de Janeiro, sente-se longe do olhar do poder público e da mídia.

“O lançamento da casa aqui inverte a ideia do ‘fim de mundo’. A cidade começa por aqui”, comemorou Damascena, que deu as boas-vindas à Casa ao lado do agitador cultural Pablo Ramoz. Criado no bairro, Faustini completou: “O gesto é tão importante quanto o programa”, definiu.

Um gesto que mobilizou Adriana, moradora do Conjunto Santa Veridiana, em Santa Cruz. Sua participação emocionou a audiência: “O que eu quero pra 2017 é que haja valorização dos professores. As pessoas da periferia tem muito a oferecer. Precisamos dar a elas a oportunidade para crescer. Precisamos de motivação e coragem para discutir o que precisamos fazer. Coragem com a que eu tive ao vir aqui”.

De todos os depoimentos, o mais sintético foi de Pedro Strozenberg, coordenador executivo do Instituto de Estudos da Religião (Iser).

“Em 2017, eu quero que sobre vaga no sistema penitenciário do Rio.” Não era preciso dizer mais.

Desigualdade

Durante o evento, foi apresentado também um estudo sobre a desigualdade no Estado, elaborado pelos pesquisadores Valeria Pero, Maria Guerreiro, Gabriel Reichenheim e Igor Pantoja, com o apoio do IETS e e do projeto Novas Cartografias,. O levantamento evidencia as grandes disparidades nos indicadores de desemprego, escolaridade e outros dados socioeconômicos entre diferentes áreas da metrópole e bairros da cidade.

“Abrindo uma janelinha dessa nossa casa, percebemos vários problemas da Região Metropolitana. A taxa de pessoas que vivem acima da linha da pobreza, por exemplo, é de cerca de 20% na capital, mas chega a 45,89 em Japeri”, mostrou Valéria Pero, professora da UFRJ e pesquisadora do IETS.

O mapa mostrou também que as grandes diferenças não estão apenas entre municípios. Na capital, a média de população com nível superior na Zona Sul é de 70%, enquanto a de Santa Cruz não passa de 7% e na Maré é de pouco mais de 4%. Valéria comparou ainda a evolução da desigualdade no município, no Estado, no Sudeste e no país para concluir que a queda da desigualdade na cidade e no Estado ficou bem aquém da obtida em nível nacional. “Estamos nos aproximando dos indicadores do Nordeste”, disse Valeria.

“O Rio que se costuma ver é apenas um cantinho desse mapa”, lembrou José Marcelo Zacchi, ao fazer um balanço dos avanços já realizados. “Reconhecemos que a cidade metropolitana está em movimento. A ideia de integração avançou em relação à visão dominante de 30 anos atrás, quando se negava a existência das áreas de favela. Já superamos algumas manchetes de jornal que ignoravam essa população, mas em várias outras a ideia de cidadania ainda está ausente”.

José Marcelo Zacchi apresenta versão inicial do Mapa da Desigualdade

José Marcelo Zacchi apresenta versão inicial do Mapa das desigualdades

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